Em várias regiões turísticas do país, a prostituição e a recepção de viajantes tanto brasileiros quanto estrangeiros são fenômenos historicamente relacionados. A atividade constante e invariável da prostituição no Brasil, além de já ser comum, ainda cresce porque as leis não implicam punições à prática. Pessoas que atuam no ramo raciocinam segundo as brechas legislativas, pois se enxergam como indivíduos conscientes, atestam que são adultas e sabem que suas atividades não incorrem em punições a si próprias ou à sua clientela - quando trabalham de forma autônoma.
No estado do Rio de Janeiro, as prostitutas atuam em grupos e têm contatos com redes muito importantes para o cenário do turismo sexual. Elas são, em sua maioria, revoltadas, valentes e muito aplicadas. Em alguns momentos, elas agem agressivamente. Esta "técnica" as livra dos assassinatos, estupros e roubos, mas às vezes não funciona e deriva histórias macabras.
Na cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos, a Praça Porto Rocha e os demais locais do centro são áreas em que a prática é discreta e silenciosa. Veículos trafegam à procura de garotas jovens que sugerem preços considerados altos. As demais áreas de prostituição se situam em localidades estratégicas das zonas periféricas, mas as atividades também se estendem às praias e às grandes avenidas quando a noite chega. A clientela apresenta categorias sociais bem diversificadas.
Praia, carnaval e sexo
Os períodos mais rentáveis e agitados para a prostituição são os meses do Ano Novo, do Carnaval e das micaretas. Cabo Frio promove as festas carnavalescas mais populares do estado, e as garotas de programa costumam coordenar seus horários para a captação dos possíveis clientes na multidão de foliões e turistas. Quando as profissionais e os fregueses se reúnem em grandes festejos, torna-se impossível distinguir as prostitutas e os seus clientes dos meros integrantes dos blocos.
A lei brasileira repreende a exploração de prostitutas com penas que vão de um a cinco anos de prisão. Entretanto, os esquemas policiais de todo o estado são insuficientes quando o Carnaval se aproxima. Os ritmos musicais, as festas, as praias, os corpos despidos e a sensualização representam um universo atraente para muitos visitantes estrangeiros. Os turistas imaginam as cidades litorâneas como paradas obrigatórias para o entretenimento sexual.
Via para o tráfico de drogas
Prostituir-se não é uma tarefa plenamente compensatória. Quando os lucros são insuficientes, as garotas de programa buscam "bicos" no tráfico de drogas. Elas passam a trabalhar como "mulas", pois carregam alucinógenos como a cocaína, a maconha ou o crack aos principais pontos de venda ou de distribuição.
De acordo com as estatísticas mais recentes da Polícia Federal, as mulheres jovens e bonitas totalizam 80% de todas as que se aliam ao comércio das drogas psicoativas. Algumas intermediárias transportam as mercadorias a contragosto porque têm dívidas ou se deixam influenciar por donos de prostíbulos, cônjuges ou namorados traficantes. Em Cabo Frio, a principal causa das detenções de mulheres dos 18 aos 25 anos é o narcotráfico.
Quando são abordadas por policiais, as prostitutas mais jovens dizem que estão passeando e encontrando seus amigos. As mentiras funcionam, pois os agentes da polícia sabem que a venda dos corpos configura uma atividade de delicada identificação. Em outros casos, as jovens que oferecem programas há mais tempo já são conhecidas, mas negam a sua menoridade. As garotas de Cabo Frio ainda se limitam a mentir as suas idades, enquanto suas colegas de profissão cariocas já andam com documentos falsos, que são comprados por "cafetões" ou amigas que conhecem os falsários.
Prostituição de menores
A prostituição dos menores no município é um crime que permanece "nebuloso". Poucos sabem estimar o número de incidentes que envolvem os menores cabofrienses. A ingestão de bebidas alcoólicas também serve de amparo às garotas que querem suportar os longos expedientes da prostituição. Os drinques e a alcoolização suscetibilizam as "novinhas" que, em consequência, deixam-se drogar, principalmente com crack e maconha.
A prática é contínua e esgotante. "Eu não me prostituía somente aos fins de semana. Eu não transava porque adorava. As garotas de programa não são o que as pessoas veem na televisão. Você precisa ser a mulher mais corajosa do mundo e ter a cabeça no lugar", afirma uma jovem. Por outro lado, percebe-se a instabilidade das demais prostitutas. "Algumas colegas eram maltratadas e inclusive se prostituíam quando queriam comprar uma bolsa nova ou um par de sapatos. Elas chegavam vestidas como as atrizes da TV, mas tinham feridas bem bizarras no corpo", acrescenta a menina que viveu algumas situações de perigo dos 15 aos 27 anos.
Segundo o Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA), o Rio de Janeiro é um dos estados onde a prostituição infantil é mais grave. Paralelamente, observa-se que o passar do tempo, o desgaste físico e o uso abusivo das drogas impedem as mulheres mais velhas de lucrar como as novas. Quando tentam sair do submundo, porém, as garotas de programa notam que o mercado de trabalho não as trata de forma transigente. Muitas permanecem desempregadas, pois não se capacitaram às atividades propostas pelos empregadores - e a juventude já foi embora.
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Fonte: O Globo
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