Mesmo com desastre japonês, Brasil mantém programa nuclear

Há exatos sete meses, o Caderno de Ecologia do Correio do Estado publicou reportagem sobre a previsão de ampliação do programa nuclear brasileiro. No texto, previam-se investimentos da ordem de R$ 30 bilhões para a construção de quatro usinas até 2030.
O debate sobre os riscos de empreendimentos nucleares, antes já acalorados, ganharam fôlego após o terremoto do último dia 11 no Japão, que danificou os reatores da Usina Nuclear de Fukushima, liberando partículas radioativas no ambiente. 
Temerosos acerca da segurança oferecida pelas usinas nucleares brasileiras, moradores de Angra dos Reis, cidade do litoral sul fluminense onde estão as duas usinas brasileiras em funcionamento, fizeram protestos em solidariedade às vítimas do Japão e pediram a paralisação de Angra 1 e 2, enquanto não haja certeza das condições reais de segurança para a população.
A questão que se levantou é: uma vez comprovada a falibilidade desse tipo de empreendimento, os investimentos na ampliação do parque de geração de energia nuclear brasileiro vão continuar? A resposta do assessor da presidência da Eletronuclear, braço da Eletrobrás, Leonam Guimarães, é sim. Em entrevista ao Jornal do Commercio, ele disse que “o fato de ter ocorrido esse acidente não muda em nada as necessidades e os critérios que levaram vários países do mundo a recorrer à energia nuclear”.
Segundo ele, o Brasil está preparado para enfrentar acidentes nucleares e não deverá retroceder nos planos de aumentar o seu parque nuclear por causa do acidente no Japão, apesar de que “esse problema sem dúvida vai causar perturbação em todos os planos (de novas usinas)”. 
Medidas de segurança
A Eletronuclear afirmou que as usinas de Angra operam com alto grau de segurança e são projetadas para resistir até a terremotos. Além disso, existe uma barreira antitsunami que protege todo o complexo nuclear, mesmo reiterando que no Oceano Atlântico Sul não existem as condições necessárias para gerar os tsunamis.
Além disso, a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), onde estão as usinas, possui uma estação sismográfica equipada com aparelhos modernos que monitoram, identificam e analisam os eventos sísmicos locais e regionais. O maior terremoto registrado na Região Sudeste, nas últimas décadas, ocorreu em 22 de abril de 2008, atingiu 5,2 graus na escala Richter e teve seu epicentro no Oceano Atlântico, a 315 km da Central Nuclear. O nível das acelerações registrado na estação sismográfica de Angra foi de 0,0017 g (2% do valor de projeto).
Diferenças entre Angra e Fukushima
As usinas Angra 1 e 2 operam com reatores à água pressurizada (PWR), assim como 65% das 440 usinas nucleares em operação no mundo. A central de Fukushima, no Japão, conta com reatores à água fervente (BWR). 
Em relatório divulgado pela Eletronuclear fica claro que uma tecnologia não é necessariamente mais segura do que a outra, mas num acidente com perda total da alimentação elétrica, como o ocorrido em Fukushima, um reator PWR permitiria que os operadores tivessem mais tempo para o restabelecimento da energia do que um BWR.
“A usina PWR conta com circuitos independentes e geradores de vapor, equipamentos que contêm uma quantidade significativa de água e que permitem que o resfriamento do reator ocorra por circulação natural até o restabelecimento de energia. sem a necessidade de se utilizar bombas acionadas por eletricidade. Numa usina BWR, existe um circuito único, sem geradores de vapor. Um corte no fornecimento de energia interrompe imediatamente o resfriamento, como aconteceu na usina de Fukushima Daiichi. Portanto, nessas condições, a usina PWR apresenta algumas vantagens”, esclarece o relatório.
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Correio do Estado

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