Estudante de Casimiro de Abreu vive semana de deputado em Brasília

Maioria das propostas do Parlamento Jovem quer mais trabalho e educação.
Os corredores, plenários e espaços da Câmara estão tomados por adolescentes nesta semana. Mas em vez de uniformes escolares, todos vestem ternos e paletós. Eles não vieram para um simples tour pela sede do Legislativo porque estão engajados em fazer política - ou pelo menos aprender.
Desta segunda-feira (22) até a próxima sexta, 77 estudantes de todo o país vivem uma semana como deputados. No Parlamento Jovem, eles conhecem a rotina e o trabalho de um parlamentar: apresentam projetos, formam e presidem comissões, analisam e discutem as emendas e votam as políticas públicas que consideram mais importantes para o país.
O projeto, que existe desde 2004, traz à capital federal alunos do 3º ano do Ensino Médio de todos os Estados e Distrito Federal, em número proporcional à representação real de cada unidade da Federação na Câmara. Em vez de serem eleitos, eles são escolhidos por mérito: escolas, secretarias de educação estaduais e técnicos da Câmara selecionam aqueles que apresentaram os melhores projetos de lei.
Embora fictícias, as propostas trazem preocupações reais dos estudantes. Neste ano, a maioria deles busca melhorias na educação e, principalmente, vias de acesso para o mercado de trabalho. Dos 77 projetos de lei, 45 buscam implantar medidas como ampliação de cursos técnicos, incentivos empresas para criar mais estágios, reserva de vagas para o primeiro emprego. Várias propostas ainda aliam a profissionalização à educação: criam bolsas, incluem disciplinas técnicas no ensino médio e incentivam a orientação profissional nas escolas.
Ideias
O estudante Jhonatas Castro, de 17 anos, da Escola Estadual Santa Maria, em Casimiro de Abreu (RJ), propõe que todas as vagas de empregos temporários sejam reservadas a alunos do ensino médio. Nas escolas, quer ainda que haja aulas que preparem para o trabalho, a exemplo dos cursos do Senac. Questionado por que está tão interessado no mercado de trabalho, Castro prega a independência financeira.
- O mundo é mais capitalista do que nunca. Hoje, o jovem quer um tênis de marca, uma bermuda, ele quer estar por dentro das tecnologias caras. Muitas vezes, ele não tem esse recurso. Nós jovens queremos oportunidade para ter a nossa independência financeira, levar a nossa namorada no cinema e ter o nosso dinheiro. Estamos procurando [trabalho], mas não estamos preparados.
Já a estudante Claudenice Almeida (17) notou que muitos dos colegas sequer sabem com o quê querem trabalhar. Numa pesquisa com 150 alunos do 3º ano do ensino médio em sua escola, o Centro de Ensino da Cidade de São Luís (MA), ela notou que 45% não sabiam para o quê iriam prestar vestibular. Com base no levantamento, apresentou projeto de lei para incluir orientação e testes vocacionais entre as disciplinas obrigatórias.
- No meu Estado, a maioria dos jovens fica na dúvida e acaba desistindo do vestibular.
Ela, pelo menos, já decidiu: vai tentar o curso de ciências contábeis. Mas disse que foi a mãe que a levou para conhecer a área. Questionada sobre o que ganha ao participar do Parlamento Jovem, ela disse que quer mais é contribuir com a sociedade.
Exemplo da mesma motivação é o projeto do estudante Ari Carneiro Morais Júnior (17), que mora em Vitória (ES). Sua proposta destina recursos do pré-sal para beneficiar famílias de pescadores diretamente prejudicadas com a atividade petrolífera no litoral.
- A plataforma tem uma grande área de proteção em volta, tem muita circulação de navio, isso impossibilita a atividade e a tradição.
Meu projeto visa dar condição técnica para os filhos dos pescadores, para que talvez eles se empreguem nas petrolíferas.
Ganhos
Para os educadores nos Estados, que trazem os estudantes a Brasília, os jovens ganham muito com a experiência. A professora Vera Reis, coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte, cita a nova impressão que eles adquirem da atividade política, em geral, vista como negativa.
- Estamos preparando ele para não apenas criticar, mas propor ideias para mudanças efetivas. O jovem se torna também responsável por esse mundo mais justo que ele quer.
A técnica de educação Vânia Sales da Silva, de Porto Velho (RO), destaca a aproximação dos jovens rondonienses com a cultura e as experiências do restante do país.
- Amplia o horizonte. A convivência acaba o faz absorver a cultura de outros Estados. Em geral, tudo se mantém no eixo Rio-São Paulo. Rondônia está sempre alheia do resto.
Já o diretor de escola Antônio Duque Estrada, de São João Del Rei (MG), chama a atenção para a própria formação política para os alunos de Minas, Estado reconhecido pela tradição de formar articuladores.
- É um bom aprendizado de como acontece a tramitação dos projetos, de como o deputado trabalha. A primeira mulher presidente do Parlamento Jovem foi uma mineira.
O idealizador do projeto na Câmara, deputado Lobbe Neto (PSDB-SP) diz que a Casa também ganha. Por ano, três ou quatro projetos chegam a ser "apadrinhados" pelos colegas. Um deles, que obriga escolas públicas a fazer exames oftalmológicos e auditivos em alunos, já foi aprovado na Câmara e hoje está em análise na Comissão de Educação do Senado.
- Tem muitos jovens dando show, falando melhor que muitos parlamentares. Sendo protagonistas do dia do dia do nosso país e reivindicando melhorias nas políticas públicas.
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Fonte: R7
Foto: Ag. Câmara

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