Policiais clonavam cartões

Seis pessoas, entre elas três policiais civis, foram presas na manhã de segunda-feira (28), acusadas de integrarem uma quadrilha especializada em clonagem de cartões bancários em São Gonçalo, Itaboraí e Região dos Lagos.
A operação, batizada de Traidor, desarticulou o bando que contava com informações privilegiadas dos policiais, acusados de receberem participação nos “lucros” da quadrilha. Foram presos Ricardo Perrota de Carvalho, investigador lotado na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), transferido para a Deam de Belford Roxo; e Marcos Gomes da Silva, também lotado na DRFA. Também foi expedido mandado de prisão contra o ex-chefe do Setor de Investigação (SI) da 73ª DP (Neves), Jorge Dias. Candidato a deputado estadual, Dias foi beneficiado pela Lei Eleitoral, que não permite a prisão de candidatos a cargos eletivos até 15 dias antes das eleições. Ele prestou esclarecimentos e foi liberado.

Além dos policiais, foram presos: Antônio Barbosa de Oliveira, o Tonhão, morador de Itaboraí, Luiz Antonio Gonçalves, o Luizão, Clodoaldo Lima Oliveira e a tia dele, Maria Vilani de Lima, que foi presa em flagrante por receptação, por esconder material da quadrilha em sua casa.

A polícia ainda procura por Clóvis Lima de Oliveira que, junto com a mulher, comandaria o esquema, e o bombeiro inativo Mozart Leiroz de Souza.
Investigação - A investigação para desarticular a quadrilha durou cerca de oito meses e foi chefiada pelo delegado Felipe Bittencourt do Vale, da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol).
“A quadrilha é oriunda da cidade de Crateús no Ceará e Novo Oriente, onde esse golpe se tornou corriqueiro. Os estelionatários começaram a migrar para outras cidades e passaram a dar dicas das fraudes para os criminosos daqui, que não estavam habituados com esse tipo de esquema. Eles agiam como se fosse pioneiro. E, devido a isso, arrecadavam uma grande quantia de dinheiro”, explicou o delegado.

Lucros - A quadrilha arrecadava mensalmente de R$ 500 a R$ 700 mil, segundo a polícia. “Eles tinham apoio dos policiais que faziam a segurança e ganhavam porcentagem em cima dos lucros. Eles tinham preferência pela Baixada Fluminense, Niterói, São Gonçalo e Região dos Lagos, em especial nas cidade de Búzios e Cabo frio”, explicou. A polícia ainda investiga a participação de outros policiais civis e militares envolvidos no esquema.

Operação
- A operação começou ainda de madrugada e contou com 100 policiais civis, com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O objetivo era cumprir 12 mandados de prisão, oito destes para serem cumpridos no Estado do Rio e quatro na cidade cearense de Crateús, além de 19 mandados de busca e apreensão. A ação foi realizada em diversos pontos do Rio, Niterói, Maricá, Itaboraí, Região dos Lagos e Baixada Fluminense.

Na Rua 21, em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, a polícia encontrou o laboratório da quadrilha. No local foram apreendidos diversos cartões de banco, carcaças de cartões que eram comprados no Ceará a R$ 1,60 para confecção das clonagens. Além de tarjas magnéticas, aparelhos chupa-cabra (que capturam informações dos cartões nos caixas eletrônicos), e dispositivos de vídeo de celulares que, colocados nos caixas dos bancos, através de furos microscópicos era possível filmar o cliente digitando a senha do cartão a ser clonado.

Revolta
- O chefe de Polícia Civil, Allan Turnovisk, revelou que lhe causou muita revolta, descobrir que policiais revelavam a traficantes os destinos das operações. “Por causa desses bandidos traidores perdemos em duas operações três policiais civis e tivemos um saldo de mais de dez feridos, no ano passado. Quando a gente chama de Operação Traidor, esse é o sentimento da Polícia Civil com relação a essas pessoas. Era uma questão de honra para a gente prender esses policiais. Para mim, esses policiais são piores que bandidos. Se Deus quiser eles serão ex-policiais. Eu vou lutar por isso”, prometeu.
Esquema

De acordo com o chefe de Polícia Civil, Allan Turnovisk, os policiais civis que participavam do esquema, avisavam o bando sobre qualquer operação de delegacias especializadas. “Além disso, eles faziam a segurança dos criminosos para que fossem instalados os equipamentos sem despertar qualquer supeita. Isso acontecia principalmente nos finais de semana”, disse o delegado.

Segundo as investigações, eles clonavam os cartões exatamente e se utilizavam de identidades falsas para fazer compras em lojas.

Clonagem
- A quadrilha trocava as carcaças dos equipamentos e colocava uma câmera microscópica para filmar a mão dos clientes digitando a senha. Quando o cliente colocava o cartão no caixa eletrônico o “chupa cabra” lia todos os dados do cartão. Depois, um integrante da quadrilha passava todas as informações para um lap top e, rapidamente, o cartão era clonado.
Escutas telefônicas

Em escutas telefônicas realizadas com autorização da Justiça, os integrantes da quadrilha apelidavam os bancos preferidos para aplicação do golpe. O Bradesco era vermelho, O Banco do Brasil era chamado de amarelo, O HSBC de H e o Santander não tinha apelido.

Em cinco escutas apresentadas na manhã de segunda-feira, os policiais civis Ricardo e Marcos passavam informações sobre as operações policiais a traficantes do Morro do Alemão.

- Eles avisam à mulher de um traficante que, quando chegarem à operação, eles informariam o local.

- Dois policiais tentam descobrir onde ocorrerá operação para avisar ao bando.

- Eles chegam a falar que alguém não foi avisado e a polícia ainda conseguiu fazer alguma coisa produtiva.

- Um deles chama uma mulher de patroa. Ela é chamada de Michele ou Mimi, que seria a mulher do traficante Pezão, do Complexo do Alemão.

- O agente pega uma viatura da DRFA para retirar a Mimi do Complexo do Alemão com segurança; na sexta o investigador da 73ª DP (Neves) que não é envolvido no esquema com traficantes, deseja boa sorte para a quadrilha que vai instalar o equipamento no caixa eletrônico.
Recordando

25 de setembro (2010)
- Um aparelho “chupa-cabra” (dispositivo que faz a leitura de senhas para a clonagem de cartões), foi encontrado, por um casal, morador de Marambaia, em Itaboraí, instalado em um caixa eletrônico, da Caixa Econômica Federal, no interior de shopping, no centro de Niterói.

28 de agosto - Antônio Rodrigues Bernardes, 32 anos, foi preso em flagrante, ao tentar retirar o aparelho que rouba dados dos clientes para clonagem de cartões.

22 de julho - Um correntista do Bradesco, por pouco não teve seu cartão clonado, em uma das agências da Rua Ernani do Amaral Peixoto, no centro de Niterói. O cliente percebeu o objeto instalado no caixa eletrônico, após ficar com o cartão preso na máquina.

11 de julho - Dois homens foram presos por policiais do 12º BPM (Niterói) após instalarem um aparelho “chupa-cabra” em um caixa eletrônico de uma agência bancária, em Piratininga, Região Oceânica de Niterói, na manhã de ontem. Um deles, Diego Almeida Barbosa da Silva, 25 anos, era motorista de uma empresa que presta serviços para a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Cuidados que devemos tomar

Procure cobrir o teclado com a outra mão quando for digitar a senha e com o corpo se a digitação for no monitor.

Jamais divulgue sua senha e não a anote num “lembrete” junto ao cartão na carteira.

Atente-se a qualquer alteração de equipamento que exija que você passe seu cartão ou que o obrigue a digitar sua senha.

Não confie em pessoas tentando ajudá-lo. Não utilize aparelho celular de terceiros.

Não deixe seu cartão numa máquina emperrada.

Ao suspeitar de qualquer irregularidade acione imediatamente a polícia. Lembre-se que seu cartão pode ser clonado em qualquer lugar.

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